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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Como erradicar o analfabetismo sem erradicar os analfabetos?

Munir Fasheh é diretor do Fórum Árabe de Educação da Universidade de Harvard, Cambridge, onde suas responsabilidades incluem a organização de reuniões anuais para as pessoas do mundo árabe a trabalhar em vários campos. Foi fundador e diretor do Instituto Tamer para a Educação Comunitária, em Jerusalém, Israel, cujo objetivo era criar espaços de aprendizagem, especialmente para os jovens, através de atividades, projetos e seminários. Fasheh é membro do Conselho de Administração da Escola de Economia de Jerusalém e da diplomacia e do Conselho de Curadores e da Comissão de Coordenação para o recurso Árabes Coletivo, um grupo inter-árabes trabalhando em rede e comunicação entre as ONGs árabes.


Fui treinado para ver as coisas com base na linguagem oficial e nas categorias profissionais. Em um sentido profundamente verdadeiro, descobri que minha mãe era analfabeta em relação ao meu tipo de conhecimento, mas que eu era analfabeto em face do seu tipo de compreensão e conhecimento. Assim, descrevê-la como analfabeta e considerar-me como alfabetizado, em certo sentido absoluto, reflete uma compreensão estreita e enviesada do mundo real e da realidade. Sou analfabeto entre os povos indígenas do equador; um grego é analfabeto no Paquistão etc. (FASHEH, 2004, p. 160)



[...] sinto que minha mãe “analfabeta” era mais livre do que eu. Ela trilhou seu caminho na vida ao palmilhá-lo, e não por meio de treinamento nem pelo ensino de conhecimento fragmentado, isolado da vida. Ela aprendeu, em vez de ser ensinada. Aprendeu observando, fazendo, refletindo, contando e produzindo. Criou seu próprio caminho e construiu sua compreensão. Uma grande diferença entre nós era que, quando eu precisava descobrir o significado de uma palavra, deveria procurá-la, na enciclopédia ou em algum outro livro. Ela, ao contrário, procurava os significados com base na sua experiência de vida. A minha forma de busca era mais cômoda. Raramente me esforçava para explorar a importância de refletir sobre minha experiência com a palavra; não fazia qualquer investigação independente do significado. Mas ela criava sua própria compreensão; era uma espectadora, uma construtora, uma autora da realidade. (FASHEH, 2004, p. 161-2)


FASHEH, M. Como erradicar o analfabetismo sem erradicar os analfabetos? Tradutor: Timothy Ireland. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 26, p. 157-168, maio/ago. 2004.

www.anped.org.br/rbe/.../rbde26_14_espaco_aberto_-_munir_fasheh.pdf.


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