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Cult?

Cult em inglês significa “culto”. Mas Cult também significa a cultura popular que, embora não esteja mais no cenário atual é ainda admirada por várias pessoas. A proposta deste blog é justamente romper com tais denominações. Apesar de gostar de estudar cultura, em seu termo mais amplo, cada vez mais chego a conclusão de que não é possível tentar encaixar culturas em conceitos tão polêmicos. Partilho do conceito de que cultura é a própria manifestação da vida, que abarca desde o comportamento até o gosto nos mais variados setores do cotidiano. Uma ilustração básica reside no fato de, por exemplo, todos nós brasileiros comermos arroz, mas o modo de prepará-lo varia segundo regiões e grupos sociais. E isto se aplica em todas nossas ações, em nossa própria vivência. Mas não podemos perder de vista que o cientificismo, na busca de compreensão, classifica o ser e o agir do ser humano. Antes de sermos brancos, por exemplo, não somos negros; antes de sermos alfabetizados, não somos analfabetos; antes de sermos heterossexuais, não somos homossexuais; antes de sermos ateus, não somos cristãos, ou budistas, ou muçulmanos; isto quer dizer que para sermos alguma coisa não somos qualquer outra. Poderia citar inúmeros exemplos em qualquer setor de nossa vida social, pois este é princípio da classificação que permeia nossa situação na sociedade em que vivemos. Tal classificação é que move a intolerância e o preconceito em relação a determinados modos de ser e agir no mundo, pois é a partir disto que os grupos sociais são agrupados ou divididos. Quem foge ao padrão, ou mais especificamente às normas sociais impostas pela sociedade na busca de homogeneização e bom andamento do tipo de sociedade escolhida (nosso caso, infelizmente baseia-se na desigualdade social em prol de vantagens para poucos) é taxado como diferente e até mesmo anormal. O diferente é mal visto pela sociedade pois não é passível de classificação. Mas felizmente, não é possível controlar o ser humano em suas atitudes. A prova é que cada vez mais vemos muitas pessoas se manifestando para que a homogenia não fique estática. Ainda há um longo caminho a percorrer, uma vez que a sociedade não consegue visualizar que a construção social, que a maneira de sermos e agirmos não é algo natural, é histórico e substancialmente cultural. Por isso é possível a modificação e a educação pode ser considerada tão importante em uma sociedade. É claro que não é somente a educação que contribui com nossas disposições culturais. Tudo que nos rodeia auxilia a sermos o que somos. A questão são as oportunidades que temos para vivenciar e trilhar nossa trajetória. Pelo fato da sociedade não ser estável, é possível proporcionar diferentes caminhos para se percorrer e também é possível respeitar as escolhas de cada um para viver da maneira que se quer. Por exemplo, não são todos que gostam e querem estudar, e nem por isso são inferiores e não possuem conhecimentos em determinados assuntos. Possuem conhecimentos de vida de modo prático, ou seja, pela própria vivência e conseguem arrumar meios para se manter e desfrutar dela, embora a sociedade critica, prega e cobra um documento que prove o que se sabe, uma vez que oferece a partir da vida escolar conteúdos, mesmo que por vezes sejam tão desconectados com a maneira de ser e agir no mundo. Mesmo as pessoas que detém os mais considerados níveis de trajetória escolar são analfabetos em alguns conteúdos de vida. Pois há muitas coisas que não aprendemos na escola. Partindo deste pressuposto e após tantos exemplos apoio a ideia de que temos que respeitar os mais diversos modos de viver. Por isso não é possível classificar a cultura como popular, culta, erudita ou utilizar qualquer outra terminologia. Mesmo tentando utilizar tais conceitos, a cultura (pensada no sentido de modo de vida) é tão híbrida (utilizando o Canclini) que um indivíduo pode gostar de música clássica (considerada culta) e também pode ouvir hip-hop (considerada popular) e mais ainda pode assistir Big Brother (considerada cultura de massa) e pra concluir ainda lê Sartre e Foucalt. Ou como minha querida avó Irene, que não perpassou pela escola, desse modo, considerada não escolarizada ou analfabeta, embora saiba ler e escrever, e assiste TV Câmara e TV Senado e está super antenada com questões políticas. E aí, onde encaixá-los e também suas culturas? Por fim, este espaço está aberto para qualquer modo de vida e entretanto, a qualquer manifestação cultural, sem preocupações com classificações em culto ou popular. Somos aquilo que vivemos, sem esquecer que diversas vezes nossas escolhas são pautadas pela posição em que estamos localizados no espaço social. Aqui está uma tentativa em proporcionar mais um espaço de debates e apreciação sobre o que nos move no cenário social: cultura! Aquilo que somos, agimos e vivemos.