Páginas


domingo, 3 de julho de 2011

Manifestações culturais que nos dão sentido à vida...

"A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado." (André Malraux)


Há certas sensações que são inexplicáveis e imensuráveis. E foi exatamente isso que senti ao me deparar com uma exposição no Bar Cruzeiro. Primeiramente, valeria a pena discorrer um pouco sobre esse local. O Bar Cruzeiro é o bar mais antigo da cidade de Piracicaba situado na mesma localidade. Na verdade, só quem conhece sabe do que estou falando. É um bar comum em sua faixada, mas ao fundo há um espaço em que é possível apreciar as mais diversas manifestações artísticas como apresentações musicais, teatrais, exposições etc. Logo que iniciou tais atividades eu tive o privilégio de poder trabalhar em um lugar em que começava uma imensa efervescência cultural organizada pelo produtor cultural Pablo Delvage. Na verdade, estou sempre por lá, mas um dia desses foi especial, pois foi quando tive o prazer de conhecer um pouco do trabalho do artista Jaime Ponciano da Silva, se não bastasse, regado a muito jazz com excelentes músicos de nossa cidade. Aproveito para agradecer ao querido Alberto Guerreiro que além de ser o responsável por nos apresentar as obras desse grande artista, disponibilizou os textos e imagens que apresento a seguir. Agradeço também ao Wagner Silva, musicista da mais alta qualidade que também cedeu algumas imagens para minha postagem. Cabe ainda ressaltar que os textos que apresentarei a seguir foram expostos na entrada do Bar Cruzeiro e foi ali, quando li que me veio o pensamento de que era imprescindível divulgar para o maior número de pessoas o trabalho de um ser humano tão autêntico e que conseguira me causar tão boas e intensas sensações.

Alberto Guerreiro


Pablo Delvage e Vanessa, no Bar Cruzeiro

Wagner Silva, ao centro, em noite de jazz

EXPOSIÇÃO - Maio/Junho de 2011 - Bar Cruzeiro

Jaime Ponciano, várias fases de sua obra

Jaime Ponciano da Silva –

Artista Plástico

(Guarulhos,27.ago.1962

– São Paulo, 6.ago.2009)



Nos trabalhos dos anos 80, uma fase prolífica, o figurativo em cores vibrantes retrata a cena urbana de São Paulo. Personagens da noite paulistanas são levados às telas com exuberância de cores e certo exagero nas formas.


Nos anos 90, o graffitti e as influências de outros artistas levam a ‘Romance de guerra’, uma fase mais sombria, com personagens distorcidos estampados em muros de concreto. Surgem também manequins e modelos feitos em máscaras recortadas e aplicadas em camisetas, postais, broches, gravuras, etc.

No final dos anos 90, a cor reaparece em grandes telas abstratas. Madeira, seda, metais transformam-se nos mais diversos objetos de arte. De troncos secos e laranjeira, ele constrói uma linda fruteira.
Inusitadas, como o próprio artista, as bonecas surgem, feitas a mão uma a uma, com dezenas de tipos diferentes de linhas, quase que esculturas de suas pinturas e personagens urbanos do começo de sua carreira.
(Luiz Amorim e Marcello Tomazelli)

Quando Jaime Ponciano da Silva faleceu, em 2009, pensamos, seus amigos-fãs, em organizar uma exposição reunindo os seus trabalhos, que tínhamos em nossas casas, locais de trabalho ou nas prateleiras de nossos guarda-roupas.

Seria uma espécie de homenagem àquele que pontuou nossas vidas com sua figura irreverente e sua arte libertária.

Suas obras eram dispersadas à medida mesma em que era produzida.

Jamais se preocupou em sistematizar sua produção e, por isso, é tão difícil, para nós rastrearmos seus trabalhos.

Sabemos que há “Jaimes Poncianos” ou “Jaimes da Silva” (como assinou durante muitos anos – uma ‘marchand’o convenceu a mudar sua assinatura por parecer mais artística) em vários estados brasileiros e em vários países do mundo, Soubemos, durante a preparação desta exposição, que seus três últimos trabalhos de porte estão em Miami.

Sobre suas exposições, individuais ou coletivas, apesar de as termos visitado e acompanhado suas montagens, não temos todos os fôlderes, tampouco o completo registro das obras que delas participaram. Na tentativa de resgatarmos toda a memória possível sobre a sua história e suas obras, inauguramos um ‘blog’ em seu nome, com o material de que dispúnhamos e para o qual remeteremos todas as informações que obtivermos. Luiz Amorim e Marcello Tomazelli são os amigos responsáveis pelo ‘blog’:

jaimeponcianoart.blogspot.com

Queridos amigos e amigas,

Na quinta-feira, Bebeto trouxe a notícia: nosso querido Jaime se foi, vítima de uma pneumonia, no dia 06 de agosto de 2009.

Figura irreverente, artista do traço e da cor, cidadão das fronteiras, pintor dos travecos, das pinturas-charges, das camisetas-arte que estamparam nossos corpos jovens nos anos 80/90.

Truqueiro pra existir nesse mundo vasto e imundo, Jaime foi alma boa, divertida, amorosa, muito amorosa.

Impossível esquecê-lo vestido de espanhola, andando em plena avenida Paulista, batendo na própria bunda dizendo:

– Anda, Luzia!

Sou-lhe grato por cada escândalo que me fez passar.

Eu, recém-vindo do interior, conheci Jaime através da Mila e do Pedro quando fui morar com eles na rua Machado de Assis; na primeira vez em que o vi, ele (seguido do Raul) subia a escada que dava acesso à sala da casa gritando com voz de bicha:

– Trouxe uma paranga para fazer a cabeça dashshshs trêshshsh.

Ashshshs trêshshshs eram ele, Raul e Pedro. Quase fiz minhas malas e saí correndo com medo de serincluído no grupo.

Demorei pra entender que, de todos nós, ele encarnava literalmente aquela liberdade que almejávamos, mas que só tínhamos coragem de praticá-la no discurso.

Jaime já era 'performer', corajoso porque sim. Política e ética encarnadas nele porque indissociavelmente estético. Nossa casa foi território livre em anos ainda moralistas do final da ditadura graças à mente delicadamente ampla e justa da Mila, dos gestos cotidianamente transgressivos do Pedro e das atitudes francamente despudoradas de Jaime e Raul. Por lá – naquele território livre – tanta gente passou, namorou, cortou cebola para a fantástica culinária do Pedro, brigou com namorado/a, fez faxina coletiva, decorou a casa.

Cris Guerreiro, Graça Totaro, Rui Farneda, Raul Rúbio, Renato Sakata, Douglas Braga, Célia Genovez, Márcia Rosatto, Rutnea Guerreiro, Silvia Esteves, Kan Kato, Valter Apolinário, Cuca Braga, Helô Marques, Rita Ronchetti, Andréa Schilling, Cláudia Simoni, Eliana Raposo, Carlito Cabrera, Mauricio Lourenção, Cristina Vicentin e tantos mais, além dos moradores oficiais: Pedro Matheus, Mila Frati, Alberto Guerreiro e eu.

Lembrar de Jaimeé lembrar de todos e do tempo em que a existência de cada um esteve fortemente repousada na do outro.

Tempo bom, seguro e quentinho!

Quis enviar este e-mail como forma de reencontrá-los para nos despedirmos de Jaime.

Pensei que cada um pode acender uma vela como ritual de iluminação. Quanto a ele, não tenho dúvida que sua 'vela' preferida fazia fumaça e era, digamos, 'aromática'.

Envio em anexo três postais do Jaime (tenho certeza de que são auto-retratos).

Os nomes, eu que inventei pra meu arquivo.

Saudades do Jaime e saudade de vocês.

Grande abraço,

Leonel Braga



Fiquei apaixonada pelas bonecas!!!



"Não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte." (Johann Goethe)





























"As obras que não nos abalam o coração afastam-se, segundo me parece, da verdadeira finalidade da arte. É sempre muito agradavél, no meio das tantas desilusões da vida, podermos reportarmo-nos pelo espírito a nobres carac teres, a afeições puras, a quadros de ventura." (Gustave Flaubert)





















































"Em arte, procurar não significa nada. O que importa é encontrar." (Pablo Picasso)


Gica, Sandra Rodrigues e Vanessa

Cristina Guerreiro


Bar Cruzeiro

Bar Cruzeiro

Abertura da exposição com apresentação musical de Alberto Guerreiro.

Apresentação de jazz

"Por vezes à noite há um rosto... Que nos olha do fundo de um espelho... E a arte deve ser como esse espelho... Que nos mostra o nosso próprio rosto. (Jorge Luis Borges)